sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Saci e a vela benta



Lá no bairro do Gramado, em Redenção da Serra. Um Saci pegou a encher o saco em volta da casa do Chico Joana.  E o pobre cachorro dele, o Manhoso, corria quase toda noite atrás do perneta. O Danado é louco pra provocar a cachorrada. Fica com aquela risadaiada e assobiada na frente dos cachorros, aquele pega e não pega, e assobio pra lá e pra cá, e nada de ver ninguém.
Estava perturbando todo mundo na vizinhança. Colocava terra na panela de feijão, dava nó na crina dos cavalos, espatifava com a galinhada no terreiro, sujava as roupas no varal. Tava uma desordem só!
Chamaram então o pároco da vila, o padre Zé Luís para benzer a casa, mas, de nada adiantou. O Saci continuou a azucrinar por lá ainda.
Então, o Zé Pereira, um amigo do Chico ficou sabendo do ocorrido, veio e disse.
– Óie Chico! Benzimento não adianta! Esses bichos são meio atrapaiados mêmo. Quando cismam com algum lugar ficar por ali tentando! Mai, eu vô te ensiná um negócio para tocar esse sujeitinho daqui de uma vez por todas.
– Faz um negócio! Arruma uma vela benzida, uma vela Benta. Põe cera da vela no cartucho da espingarda, dá uns pingos de cera no lugar do chumbo e carrega com pólvora. Coloca também uma buchinha pra modo de não cair à carga.
– E daí ocê fica esperando de tocaia na moita à noitinha. Quando ele aparecer, carque fogo nele!
– Òie Zé! Pois eu vô tratá de arrumá isso hoje mêmo! Num guento mais esse endiabrado!
E o Chico Joana preparou o cartucho, e dia seguinte começou a ficar de prontidão toda tarde, na beira da estrada. Não demorou muito, no terceiro dia de tocaia, quando foi de tardezinha, quase no escurecer, o Saci apareceu e com ele aquela bagunça de novo. Era só assobio e a barulheira pela estrada.
A cachorrada vinha latindo vindo atrás do redemoinho de vento, dando pega no meio da poeira e tentando cercar o Saci. O Manhoso já estava esperando pra se juntar a cachorrada perto da encruzilhada.
O Chico pegou a espingarda e colocou o cartucho preparado com a cera da vela Benta, apontou um palmo na frente do redemoinho. E BLAM! Acertou bem no meio do Saci!
O Pererê se espatifou no chão, quase que perde a carapuça no tombo. Saiu rolando de raiva deu um último assobio ardido e sumiu no meio do matão.
Depois daquela noite, não apareceu mais Saci por aquelas bandas. Parou toda aquela bagunça de antes. Dizem que o Saci não gosta de vela Benta e nem de cruz. E é verdade mesmo!

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