Lá no bairro do Gramado, em Redenção da Serra. Um
Saci pegou a encher o saco em volta da casa do Chico Joana. E o pobre
cachorro dele, o Manhoso, corria quase toda noite atrás do perneta. O Danado é
louco pra provocar a cachorrada. Fica com aquela risadaiada e assobiada na
frente dos cachorros, aquele pega e não pega, e assobio pra lá e pra cá, e nada
de ver ninguém.
Estava perturbando todo mundo na vizinhança.
Colocava terra na panela de feijão, dava nó na crina dos cavalos, espatifava
com a galinhada no terreiro, sujava as roupas no varal. Tava uma desordem só!
Chamaram então o pároco da vila, o padre Zé Luís
para benzer a casa, mas, de nada adiantou. O Saci continuou a azucrinar por lá
ainda.
Então, o Zé Pereira, um amigo do Chico ficou
sabendo do ocorrido, veio e disse.
– Óie Chico! Benzimento não adianta! Esses bichos
são meio atrapaiados mêmo. Quando cismam com algum lugar ficar por ali
tentando! Mai, eu vô te ensiná um negócio para tocar esse sujeitinho daqui de
uma vez por todas.
– Faz um negócio! Arruma uma vela benzida, uma vela
Benta. Põe cera da vela no cartucho da espingarda, dá uns pingos de cera no
lugar do chumbo e carrega com pólvora. Coloca também uma buchinha pra modo de
não cair à carga.
– E daí ocê fica esperando de tocaia na moita à
noitinha. Quando ele aparecer, carque fogo nele!
– Òie Zé! Pois eu vô tratá de arrumá isso hoje
mêmo! Num guento mais esse endiabrado!
E o Chico Joana preparou o cartucho, e dia seguinte
começou a ficar de prontidão toda tarde, na beira da estrada. Não demorou
muito, no terceiro dia de tocaia, quando foi de tardezinha, quase no escurecer,
o Saci apareceu e com ele aquela bagunça de novo. Era só assobio e a barulheira
pela estrada.
A cachorrada vinha latindo vindo atrás do
redemoinho de vento, dando pega no meio da poeira e tentando cercar o Saci. O
Manhoso já estava esperando pra se juntar a cachorrada perto da encruzilhada.
O Chico pegou a espingarda e colocou o cartucho
preparado com a cera da vela Benta, apontou um palmo na frente do redemoinho. E
BLAM! Acertou bem no meio do Saci!
O Pererê se espatifou no chão, quase que perde a carapuça
no tombo. Saiu rolando de raiva deu um último assobio ardido e sumiu no meio do
matão.
Depois daquela noite, não apareceu mais Saci por
aquelas bandas. Parou toda aquela bagunça de antes. Dizem que o Saci não gosta
de vela Benta e nem de cruz. E é verdade mesmo!